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  • Matheus Leisnoch

MERGULHAR É RESPIRAR!


pessoa mergulhando em uma caverna submersa
Mergulhador

Era uma vez, uma linda manhã de sábado, em Ilhabela, mais precisamente na Ilha das Cabras…

Nesta manhã ensolarada, pai e filho embarcam em uma lancha, unidos pelo propósito de mergulhar. Equipamentos prontos, água translúcida, com temperatura acolhedora. Ambiente externo perfeito, tudo adequado para que ambos vivessem momentos incríveis, tendo em vista que o local permitiria visibilidade de muitas espécies de peixes e outros animais marinhos.

Tchibum, partiu água.


Pensamentos intrusos

O passeio nas profundezas se inicia da melhor forma possível: logo que afundam já se deparam com vários cardumes, diferentes espécies multicoloridas os recepcionam, como um tapete macio e acolhedor que os envolve e os enche de beleza natural. Cada um a seu modo vivendo o momento presente, em seu mundo privado, mente e coração, pensamentos e emoções, se deleitando visualmente no profundo silêncio das águas.

Tudo transcorria maravilhosamente bem, mas de repente se aproxima de um dos mergulhadores, de uma forma inexplicável e arrebatadora um turbilhão de pensamentos sobre o passado e o futuro!


mulher com uma nuvem com raios no lugar da cabeça
Ideias, fatos, reflexões, dúvidas, preocupações

Mesmo imerso em um contexto paradisíaco, começa a surgir na mente do mergulhador x, ideias, fatos, reflexões, dúvidas, preocupações, medos que de sobressalto tomam a sua mente, transformando seu ambiente interno. Padrões automáticos e mecânicos de pensamentos também submergiram com ele. Naquele momento era como se em sua cabeça grandes ondas começassem a se chocar, se debater. O ambiente interno de sua mente foi dominado por um estado diametralmente oposto ao ambiente externo daquele pequeno paraíso.


Respirar fundo

Após alguns minutos de sofrimento, sendo dominado pelos pensamentos que se digladiavam em sua mente, e pelas emoções e sensações físicas ruins que estes geravam, ele lembrou da fala do instrutor: Mergulhar é respirar! Assim, como um barco à deriva no mar revolto que joga a sua âncora, ele estabilizou sua respiração. Inalou profundamente algumas vezes e depois buscou um ritmo mais tranquilo, uma cadência similar à respiração habitual. A partir daí, mais calmo, começou a lembrar de alguns fundamentos de seus estudos em meditação, como por exemplo: pensamentos são só pensamentos, são idéias sobre fatos, mas não necessariamente verdades. Lembrou que no mindfulness a respiração é chamada de âncora (coincidência?), é um dos recursos fundamentais para se atentar ao momento presente, buscando não ser influenciado pelas dores do passado e nem pela ansiedade gerada por medos sobre o futuro.

Assim, pouco a pouco, agora já resgatando o controle do seu ambiente interno, o mergulhador X voltou a desfrutar do seu entorno, animais, cores, formas, texturas e, o mais importante, a companhia de seu filho nesta pequena aventura comum.

 

Time laps – Passagem do tempo

Dias depois, estou eu aqui, mergulhador x, escrevendo sobre esta passagem, refletindo sobre o ocorrido e as conexões com meus estudos sobre meditação, pois a teoria é um recurso para trazer aprendizado às vivências, independente do ocorrido, transformando-as em desenvolvimento pessoal. 

A vida se dá no presente, o passado existe e nos ajuda a acumular experiências e aprendizados, mas ele já foi, já se extinguiu. Quando ficamos presos nos fatos antigos, trazendo para o presente dores e até vitórias, alegrias antigas, elas podem afetar o momento presente, fazendo que não vivamos intensamente, plenamente a experiência que está acontecendo no aqui e agora. O mesmo ocorre em relação às questões futuras, situações que ainda não chegaram, que ainda não é hora de serem vividas. Se ficamos ansiosos por este momento futuro, igualmente deixamos de fazer o nosso melhor no presente. Ironicamente, essa influência exagerada do que almejamos, pode atrapalhar a atingir o que tanto queremos. Foi isto que ocorreu na água, pensamentos sobre passado e futuro, estavam atrapalhando o deleite do momento tão especial que eu estava vivendo.


A importância de focar em si mesmo

 Meditar não é esquecer de nossa história e muito menos não se preocupar com o futuro. Não é um meio de escapar da realidade, pelo contrário, o seu objetivo é conseguir ver a realidade como ela é, desmascarando as causas profundas do nosso sofrimento e dissipando a confusão mental. Quando estamos sendo dominados pelos pensamentos e emoções que nos assolam de forma intempestiva, deixamos de ter clareza, confundimos o que está sendo criado de forma automática pela nossa mente, com o que realmente é um fato concreto. 

Como mudar isso? Como passar a dominar nossa mente?É preciso esforço, assim como as atividades físicas preparam nosso corpo, certos exercícios de meditação treinam a nossa mente, refinam e aguçam nossa percepção, transformam como percebemos as coisas, e isto pode mudar a qualidade de nossas vidas. A mente cria significado para nossa experiência: bem-estar ou sofrimento podem ser dois lados de uma mesma moeda. Estar em um ambiente bonito, tranquilo, mesmo fazendo o que se gosta, não é garantia de estar bem. Aliás, é possível (mesmo não sendo desejado) estar em um local caótico, mas a calma e o equilíbrio interno estarem presentes.


A prática leva à perfeição

Todo esse texto, os conceitos abordados, estão aqui no papel, na dimensão do intelecto. Foram embasados em textos clássicos, de autores reconhecidos e também a partir das suas experiências (e na minha citada acima). Para que estas informações passem a ser ferramentas úteis a quem lê este, é necessário que a prática seja realizada com perseverança e entusiasmo. Os treinos de meditação precisam ser praticados e conectados com a vida de cada um. Só assim conseguimos integrar a teoria em nós mesmos em um nível mais profundo.



Zoom de uma foto de uma pessoa com as mãos no peito e na barriga, sentindo a respiração
Focar na respiração

Meditar é um caminho para refinar a mente, observar os mecanismos mais sutis do nosso funcionamento mental e exercer um efeito sobre eles. Nossa mente se comporta como um macaco aprisionado que se agita e salta de um canto a outro. Com a meditação pode-se chegar ao ponto em que seremos capazes de ver o estado mais fundamental de nossa consciência. Um estado perfeitamente lúcido e desperto que está sempre presente.

Bem, nos vemos após o próximo mergulho, literal ou conceitual.


Matheus Leisnoch


Bibliografia: Trechos do livro “Why Meditate: Working with Thoughts and Emotions”, de Matthieu Ricard.


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